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domingo, 17 de agosto de 2014

Brugada Poster Sociedade Mineira de Cardiologia


Sindrome de Brugada: relato de caso

OLIVEIRA, K.C.L. , SCARPELLI, R.A.B., MELLO,R.N.B., CAVALCANTI, P.S., ALVES,H.J.S.

 

Introdução

Em 1992, os irmãos Brugada, descreveram uma nova síndrome clínica, caracterizada pela presença de um padrão eletrocardiográfico tipico ( bloqueio de ramo direito e elevação do segmento ST em sela ou côncavo nas derivações precordiais direitas -V1 a V3) ao qual se associa a uma predisposição aumentada para arritmias ventriculares malignas e morte súbita em indivíduos sem cardiopatia estrutural.  

A doença que tem um padrão de transmissão hereditária autossômica dominante, afeta predominantemente homens (90%), principalmente nos países asiáticos, que em 30% dos casos esta ligada a alterações no gene SCN5A, que codifica uma subunidade dos canais de sódio cardíacos.

Em menos de duas décadas passou de uma mera curiosidade médica a uma entidade que é obrigatório diagnosticar, estratificar e tratar, pois estima-se que seja responsável por 20 a 50% dos casos de morte súbita nos indivíduos com coração estruturalmente normal, acrescido o fato de a idade média do diagnóstico e/ou de o evento que o promove (que é muitas vezes a morte súbita) ser aos 40±22 anos. Os eventos clínicos também podem ocorrer em neonatos ou crianças e a febre é um importante fator predisponente.

A quinidina e a hidroquinidina têm apresentado resultados satisfatórios no tratamento farmacológico da Sindrome de Brugada. A despeito dos resultados encorajadores com farmacoterapia, não existem evidências suficientes para recomendá-la isoladamente.

O implante de CDI permanece sendo o único tratamento efetivo estabelecido para Sindrome de Brugada. Nesses pacientes, entretanto, antiarrítmicos e ablação por cateter podem ter papel coadjuvante importante, na presença de choques apropriados recorrentes.

Relato de caso

MDC, 1 ano e 2 meses de idade, masculino, proveniente de Diamantina/MG, previamente hígido. Em 08/04/1996 deu entrada no hospital encaminhado de outra instituição com história de estar em tratamento de sinusite em uso de amoxacilina, polaramine e outros sintomáticos há alguns dias e após apresentar pico febril de 38ºC, evoluiu com palidez súbita e crise convulsiva. Foi levado ao PS onde foi atendido por Neuropediatra que durante a sua avaliação notou na ausculta cardíaca ritmo taquicárdico irregular, pulsos finos e fracos, além do estado pós comicial e cianose central. Solicitado ECG:

Admitido paciente estável, sem sequelas e sem queixas, em infusão continua de lidocaína. Suspenso todas as drogas e mantido em UTI.

Evoluiu bem durante a internação sem recidiva da arritmia assim como de síncope ou convulsões.

ECG houve normalizaçao do Qtc agora 430 ms, apenas com leve distúrbio de condução pelo ramo direito.

Ecocardiograma sem alterações estruturais.

ECGAR sem potenciais tardios.

Ressonância Magnética do coração: ausência de alterações cardíacas.

Estudo Eletrofisiológico sem induções de arritmias atriais ou ventriculares, como também, ausência de alterações no intervalo QT mesmo em infusão de isoproterenol, procainamida e imersão em água fria. Foi internado mais 3 vezes até seu 3º ano de vida em Diamantina com quadro de palpitações, sem síncope e ora com arritmia atrial (Flutter atrial) ora novamente em taquicardia ventricular (dados obtidos de sumários de alta). Chegou a utilizar Sotalol, Amiodarona e Propafenona, aqui suspensos em controle ambulatorial.

Perdeu seguimento.

Últimas consultas realizadas no serviço em 1999 e 2000, sem queixas.

Em Fevereiro de 2014, com seus 19 anos, procura novamente o serviço, encaminhado por cardiologista do interior, sem queixas cardiovasculares, porém com o achado em holter de BAV de 2º grau para avaliação.

Diagnosticado Sindrome de Brugada, com ECG tipo I de Brugada.

Submetido novamente a ampla investigação sendo esta toda normal:Ecocardiograma, Ressonância Magnética Cardíaca.

História familiar negativa para morte súbita.

Devido ao histórico, optado pela realização de Estudo Eletrofisiológico para estratificação de risco.

Intervalos Básicos: PA=23, AH=154, HV=82, QRS=91 Qtc=390ms

Função sinusal alterada (tempo de recuperação sinusal e condução sino-atrial prolongados), porém com resposta normal a atropina (Vagotonia). Condução A-V contínua sem evidência eletrofisiológica de dissociação longitudinal. PW nodal anterógrado basal em 920 ms e após atropina em 580 ms. Condução ventriculo-atrial ausente.

Fácil induçao de taquicardia ventricular polimófica, a qual se degenerou em FV com necessidade de desfibrilação imediata.

Optado pelo implante de CDI, sem intercorrências. Familiares sob investigação.Em dois  meses de acompanhamento, paciente apresentou uma terapia apropriada por FV e outro inapropriado por fibrilação atrial.

Discussão

Apesar das diretrizes internacionais para tratamento dos pacientes portadores da Sindrome de Brugada considerarem neste caso como prevenção secundária para implante de cardiodesfibrilador, optamos pela realização de Estudo Eletrofisiológico para Estratificação de risco, levando em consideração a idade do paciente (jovem), período de vida assintomático (16 anos desde o último episódio) e ausência de outros comemorativos que justificassem o implante imediato do CDI.
Se avaliassemos de forma objetiva como o diagnostico de Brugada já estava confirmado pelo padrão espontaneo tipo 1 + sincope e episódio de morte subida abortada a indicação de CDI já seria validada afim de prevenção secundária de morte súbita sem necessidade da realização do estudo eletrofisiologico.

Conclusão

O diagnóstico da Sindrome de Brugada é clínico e eletrocardiográfico. Está relacionada com alta mortalidade em jovens e o implante de CDI permanece como o único tratamento para prevenção destas perdas.

Relatamos um caso com manifestação precoce e maligna da sindrome, provavelmente um dos primeiros casos documentados no Brasil.

 

 
 ECG após cardioversão
ECG consulta 2000

Holter acompanhamento

ECG ultima consulta tipo I Brugada

EEF ECG basal

EEF: TV polimorfica

 

Referências Bibliográficas:

1.Brugada Syndrome. Report of the Second Consensus Conference. Endorsed by the Heart Rhythm Society and the European Heart Rhythm Association. Antzelevitch, Charles, et al.2005, Vol .111, pp. 659-670.

2. Benito B, Brugada R. Brugada J, BrugadaP (2008) Brugada Syndrome. Progress in Cardiovasc Diseases 51:1-22.

3 Priori, SG, Napolitano C. (2005) Should patients with an asyntoptomatic Brugada electrocardiogram undergo pharmacological and electrophysiological testing? Circulation 112:279-292.

Poster Congresso da Sociedade Mineira de Cardiologia

Diagnóstico de isquemia por análise de
multivariáveis no teste ergométrico
OLIVEIRA, J.C.V. , SOUZA, G.X.M., MAIA, R.A.L., AGUIAR, J.O., COSTA, E.M.M.,
MELLO, R.N.B., MOREIRA, G.H., HERNANDEZ, L.G.Z., CHAVES, D.C.P., ALVES,
H.J.S., TEIXEIRA, N.A.

Introdução
 
O teste ergométrico (TE) convencional utiliza, tradicionalmente, a análise do segmento ST para avaliação de resposta isquêmica. A análise de multivariáveis (AM) foi inserida recentemente e utiliza além do segmento ST, dois outros parâmetros, escore de Atenas e dispersão de QTc, afim de incrementar a sensibilidade na detecção de isquemia miocárdica.
O escore de Atenas avalia o comportamento das ondas Q,R,S em repouso comparada com o pico de esforço nas derivações aVF e V5 (R-Q-S em aVF + R-Q-S em V5). Quando a resultante da diferença for menor ou igual a cinco milímetros, considera-se critério isquêmico.
A dispersão do QTc, calculado pela fórmula de Bazzet ou de Jones, é realizada através da resultante da
diferença do QTc em repouso e no pico de esforço. Quando maior ou igual a 60ms considera-se critério
isquêmico. A presença de dois dos três critérios define o teste ergométrico como isquêmico.
 
 
Relato de caso
 
MRP, 57 anos, previamente hígido, tabagista e sedentário procurou atendimento no posto de saúde no
dia 22/05/13 com queixa de precordialgia de forte intensidade, em aperto, com duração maior que 20
minutos, sem irradiação, associada a dispneia. Não alocado no protocolo de síndrome coronariana aguda.
Administrado benzodiazepínico e encaminhado para a residência.
No dia 12/06/13, foi realizado TE, no qual o ECG basal mostrava inversão de onda T em V6, V3R, V4R, V7,
V8, D2, D3 e aVF. Atingiu 91% da frequência cardíaca máxima prevista para idade. Pela análise do segmento ST, não apresentou critérios para isquemia, no entanto a análise do escore de Atenas – 0mm - e a dispersão de QTc – 65ms – foram conclusivos.
Ecocardiograma evidenciou acinesia médio basal posterior e hipocinesia basal inferior com déficit sistólico
discreto do ventrículo esquerdo (FE:52%).
Submetido, então, ao cateterismo cardíaco no dia 21/06/13 e observado coronária direita (CD) com placa
severa no segmento proximal, aterosclerose severa no terço médio da descendente anterior (DA), ramo
marginal com oclusão total opacificando-se por circulação colateral. Angioplastia, em 05/07/13, de CD e D.A. com sucesso
 
Discussão
 
Em 2013 foi implatado no serviço a AM no TE para todos os pacientes, independente do risco cardiovascular. As limitações são as mesmas para a análise do segmento ST isolado: BRE, WPW, HVE, MP.
O paciente em questão não seria diagnosticado com isquemia no TE se não tivesse sido avaliado através da AM.
Com isso, o paciente recebeu tratamento percutâneo e mudou o curso da doença aterosclerótica coronariana e seu prognóstico.
 
Conclusão
 
A AM no TE incrementou a sensibilidade para detecção de isquemia miocárdica. Há trabalhos evidenciando sensibilidade próxima da cintilografia miocárdica.
A AM é um método rápido, simples e de fácil execução, sendo cada vez mais aderido pelos ergometristas no Brasil, apesar de ainda não ser padronizado nos serviços de ergometria.
 
 
Referências Bibliográficas:
 
1. Lu ZY, Haus S. Evaluation of exercise-induced QRS amplitude changes (Athens score) and their clinical value. J Tongji Med Univ. 1993;13(3):177-82. 10.
2. Koide Y, Yotsukura M, Yoshino H, Ishikawa K. A new coronary artery disease index of treadmill exercise eletrocardiograms based on the step-up diagnostic method. Am J Cardiol 2001;87:142-7.
3. Hubbard BL, Gibbons RJ, Lapeyre AC et al. Identification of severe coronary artery disease using simple clinical parameters. Arch Intern Med. 1992; 152:309-12
4. Storti F.C, Uchida A.H, Hueb W.A, Moffa P.J, César L.A.M.. Estratificação de risco do coronariopata estável através de novo escore. XXVIII Congresso da Sociedade de Cardiologia
do Estado de São Paulo. Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo - Suplemento Especial, 2007, volume 17, fascículo 2, página 28.
5. III Diretriz de teste ergométrico da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2010; 95 (5 supl.1): 1-26